Brinco de Ouro da Princesa

A história do Estádio Brinco de Ouro da Princesa começou em 1947, quando a Federação Paulista de Futebol profissionalizou seu “Campeonato do Interior”. O Guarani, um dos primeiros a aderir à iniciativa, percebeu que seu velho estádio, situado na rua Barão Geraldo de Rezende, bairro Guanabara, estava mais do que nunca ultrapassado.

O relatório apresentado pela “Comissão Pró-Reforma do Estádio”, liderada pelo diretor Antonio Carlos Bastos, ao então presidente Emílio Porto, foi conclusivo: o clube deveria buscar uma área maior para construir um novo estádio, ainda que mais distante do centro da cidade. Uma nova reforma do velho “Pastinho” era inviável e as dimensões do terreno, então pouco mais de 19 mil m², não permitiam que ali se construísse um novo estádio.

Surgiu, no início de 1948, uma proposta irrecusável: uma imobiliária interessada em lotear a área do Guanabara ofereceu uma gleba de 50,4 mil m² na chamada “Baixada do Proença”. Ainda executaria sua drenagem e terraplanagem, pagando 2 milhões de Cruzeiros, em parcelas, para início das obras do novo estádio. Negócio fechado em 2 de Abril, dia do aniversário do clube. Logo depois, o Guarani recebeu a doação de mais dois terrenos ao lado da área negociada, um de 19,405 mil m² e outro de 2,92 mil m².

Antonio Carlos Bastos passou a comandar a agora chamada “Comissão Pró Estádio”, com total autonomia para obtenção e aplicação de recursos, enquanto a Diretoria ficava com a responsabilidade de levar o time à 1ª Divisão do futebol bandeirante, já que a Federação Paulista instruiu em 1948 a “Lei do Acesso”, que permitiria ao clube campeão do interior juntar-se, no ano seguinte, aos clubes profissionais de São Paulo e Santos na 1ª Divisão.

Em 11 de Julho de 1948, um domingo festivo, que terminaria com mais uma vitória em “Dérbi”, os arquitetos Ícaro de Castro Melo e Osvaldo Correia Gonçalves apresentaram a maquete do novo Estádio. No dia seguinte, na redação do jornal Correio Popular, o jornalista João Caetano Monteiro Filho aguardava um clichê da foto da maquete para completar uma pequena matéria. Ao ver a forma circular e a beleza do novo estádio, lhe veio à mente a imagem de um brinco. E como Campinas era conhecida como a “Princesa D´Oeste”, criou no título um trocadilho que ficaria para a história: “Brinco de ouro para a “princesa” ”, publicado na página 6 da edição de 13 de Julho. Foi o que bastou para que a população passasse a chamar o futuro estádio dessa maneira. Quando se decidiu pelo nome oficial, não houve dúvida: Brinco de Ouro da Princesa.

No campeonato de 1949 veio o tão aguardado acesso à 1ª Divisão de Profissionais. Mais do que nunca, era preciso arregaçar as mangas e construir o estádio. Além dos 2 milhões de Cruzeiros pagos pela Imobiliária, outros 3,5 milhões foram arrecadados com a venda de Cadeiras Vitalícias. Mas era preciso muito mais. Foi quando alguns membros da “Comissão de Obras” se revelaram verdadeiros heróis. Bugrinos como João D´Agostino, Dr. Januário Pardo Mêo, Rubens Trefiglio, Luis Marcelino Guernelli, Vicente Canecchio Filho, Orlando Santucci e Raphael Radamés Pretti comandaram dezenas de outros colaboradores em iniciativas como a “Campanha do Cimento”, “Campanha do Tijolo”, “Campanha da Quermesse”, “Campanha da Boa Vontade” e outras 25 do tipo, conseguindo, pouco a pouco, os recursos necessários.

Ao contrário de outros clubes, o Guarani não teve ajuda financeira do poder público, quer Municipal ou Estadual. Seu estádio foi construído com o suor, trabalho e o amor dos verdadeiros bugrinos.

Chegou o ano de 1953. Depois de árduo trabalho, era preciso usufruir da nova casa. Não havia como concluir as cabeceiras do estádio e a saída foi construir arquibancadas de madeira provisórias atrás dos gols, aproveitando o madeiramento que veio do antigo “Pastinho”.

O programa de inauguração, idealizado por uma comissão liderada pelo Prof. Hilton Federeci, foi dos mais culturais e detalhistas que já se viu no País, em festividades do gênero. Para exemplificar, o Estádio seria batizado com água colhida no Rio Paraíba, em Taubaté, onde nasceu Francisco Barreto Leme, o fundador de Campinas, e junto à Cascata Guarani, no rio Paquequer, próximo à Teresópolis (RJ), onde – segundo o romance “O Guarani” de José de Alencar – teria se desenvolvida a saga do índio Peri. Foi esse livro que inspirou o maestro campineiro Antonio Carlos Gomes a escrever a ópera “O Guarani”, que, por sua vez, deu origem ao nome do clube.

Duas partidas amistosas foram programadas para a inauguração do Brinco de Ouro, sendo convidados Palmeiras e Fluminense do Rio para as festividades.

A 31 de Maio de 1953, sob a presidência do Dr. Ruy Vicente de Mello, foi inaugurado aquele que ainda hoje é um dos mais belos, completos e seguros estádios particulares do país, com o Guarani vencendo o Palmeiras por 3 a 1. Coube a Nilo a honra de marcar o primeiro gol oficial do novo estádio, aos 44 minutos do 1º tempo, cobrando falta no atual gol de entrada. Dido e Augusto completaram para o Guarani e Lima marcou para os visitantes. As chuvas que caíram naquele dia, porém, fizeram com que grande parte da solenidade fosse adiada para antes da segunda partida, realizada na tarde de 4 de Junho, quando o Fluminense venceu o Guarani por 1 a 0 (gol de Marinho).

No projeto original, o Estádio teria forma elíptica e capacidade para 29 mil pessoas. O setor coberto, das sociais e vitalícias, possuía número maior de degraus que as gerais, do lado contrário. As cabeceiras deveriam partir das arquibancadas cobertas, diminuindo até chegar nas gerais.

Por volta de 1960, no entanto, decidiu-se alterar o projeto e construir a Cabeceira Norte, com o mesmo número de degraus das sociais. O mesmo seria feito, futuramente, na Cabeceira Sul. A construção da atual “cabeceira do placar eletrônico” demorou pouco mais de 2 anos.

A inauguração do sistema de iluminação do Estádio Brinco de Ouro aconteceu em 11 de Janeiro de 1964, com o jogo amistoso entre Guarani e Flamengo, do Rio de Janeiro. Na primeira vez em que os dois clubes se enfrentaram, o Bugre venceu por 2 tentos a 1.

Sob a luz dos refletores, dispostos em quatro grandes torres de concreto, o Guarani obteve algumas de suas vitórias mais expressivas, como a heroica goleada, alcançada com uma equipe repleta de ex-Juvenis, sobre o Santos de Pelé & Cia., por 5 tentos a 1.

A Cabeceira Sul (atual entrada principal) começou a ser construída em 1966, com um primeiro segmento de arquibancada. No início dos anos 70, já sob a presidência de Leonel Martins de Oliveira, as obras foram retomadas e concluídas. Nessa época, também o Conjunto Poliesportivo, iniciado em 1960, teve novo impulso, com ótimo aproveitamento do terreno em torno do Estádio, ampliado por doações do poder público.

O Brinco de Ouro da Princesa, finalmente fechado em seu anel inferior, chegou a ter público superior a 33 mil pagantes. Dos dez maiores públicos verificados em Campinas até o ano de 1978, oito foram no estádio bugrino.

Quando da maior conquista do Bugre, o título de Campeão Brasileiro de 1978, estava sendo iniciada a construção do “Tobogã”, ainda sob a administração do saudoso presidente Ricardo Chuffi. Seu sucessor, Antonio Tavares Jr., deu sequência a uma obra vultosa e arrojada, que poucos clubes brasileiros já tiveram a coragem de executar, mas que aumentaria a capacidade do estádio em mais de 15 mil lugares. A venda de “camarotes” muito colaborou para o custeio das obras e alguns atletas campeões acabaram sendo negociados em prol da necessária ampliação do Brinco de Ouro.

Além do Tobogã, outras obras deram um contorno fantástico ao Brinco de Ouro. O edifício da Administração e as bilheterias circulares passaram a fazer parte da nova entrada principal do Estádio, realçando ainda mais sua beleza e eficiência.

O Brinco de Ouro ainda possui, além de alojamentos para atletas profissionais e amadores, dezenas de salas e salões internos, em dois pavimentos, e fica circundado por um dos mais completos e funcionais conjuntos aquáticos e poli-esportivos do Brasil, um orgulho para os bugrinos. Sem falar do Centro de Treinamento da Avenida Guarani, quase em frente.

O Brinco de Ouro da Princesa foi palco de partidas memoráveis, inclusive de várias decisões de campeonatos. A Seleção Brasileira pisou em seu gramado duas vezes em 1966 (quando realizou jogos-treino contra um combinado campineiro, durante a preparação para a Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra) e outra em 5 de Maio de 1990, quando venceu a Bulgária por 2 a 1, registrando o 2º maior público do Estádio: 51.720 pagantes. O recorde foi estabelecido em 14 de Abril de 1982, com 52.002 pagantes, no jogo Guarani 2 X 3 Flamengo, pela Semifinal do Campeonato Brasileiro de 1982. Pelos atuais critérios de dimensionamento de público nos Estádios, essas marcas não mais poderão ser batidas.

 

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