Semana do Guarani – O primeiro título a gente não esquece

Em mais uma ação comemorativa aos 110 anos do Guarani Futebol Clube, duas das pessoas que mais conhecem e preservam a nossa história, os historiadores Celso Franco Oliveira Filho e Fernando Pereira da Silva, prepararam matérias especiais, contando um pouco desses 110 anos de trajetória.

E na primeira delas, eles nos trazem a primeira conquista do Bugre, o primeiro troféu, o Campeonato Campineiro de 1916.

O primeiro título a gente não esquece

O primeiro campeonato campineiro de futebol aconteceu em 1907, quando os quatro principais clubes da cidade (AA Guanabara, AA Campineira, Campinas AC e Ideal FBC) organizaram uma pioneira Liga Campineira de Foot-Ball. A Assoc. Athletica Campineira foi a grande campeã.

Em 1912, seis clubes fundaram a Liga Operária de Foot-Ball Campineira. Operário FBC, Internacional FBC Mogyana e Corinthians FBC acabaram desistindo ao longo da competição. A AAPP ficou com o título, seguida pelo novato Guarany FBC (que assim conquistou seu primeiro troféu) e pelo London FBC.

Nos anos que se seguiram, o Guarany foi se destacando cada vez mais, enfrentando com sucesso equipes de outras localidades. Em 1914, um título informal de “Campeão Campineiro” foi disputado numa única partida, realizada no Arraial dos Souzas, hoje Distrito de Sousas, entre a associação campeã de 1912 e o Guarany, já considerado pela imprensa o melhor time da cidade. Com vitória por 2 x 0 (a primeira em dérbis), o Bugre ratificou dentro de campo quem era o melhor, ganhando o status de campeão local e uma medalha dourada.

Em 1916, finalmente, os clubes locais chegaram a um consenso e Campinas voltou a ter um campeonato oficial de futebol. O Club Italiano, visando incentivar esse esporte, oferecera no final de 1915 um enorme troféu para ser disputado entre os principais clubes da cidade, e Guarany, AAPP, London, Campinas Black Team e White Team (os dois últimos fundados no final de 1914) acabaram aderindo à ideia e fundando uma nova liga, batizada de Associação Campineira de Foot-Ball.

Todas as partidas seriam no campo existente no Hipódromo do bairro Bonfim. Ficou também acertado que nas preliminares dos jogos dos times principais, os segundos quadros disputariam um torneio próprio, com o vencedor levando o troféu Typographia Campineira.

Guarany e AAPP abriram o Campeonato Campineiro de 1916 no dia 13/02, levando, segundo o jornal Commercio de Campinas, “uma colossal enchente de publico ao Hyppodromo”. Na partida principal, mesmo sob forte chuva: Guarany 2 x 0 AAPP. O time bugrino: Gomes, Dario e Paulino; Romeu, Juca e Grecco; Fernandes, Egydio, Carlos, Augusto e Larama. Os gols foram de Egydio e Juca (pênalti).

Nesse jogo, o Guarani estreou seu novo e belo uniforme. Pela primeira vez usou camisas inteiramente verdes (ainda sem o escudo no peito, que só seria confeccionado em abril).

A cada final de semana haveria uma partida, mas não se percebe uma sequência coerente na tabela. Tudo fora decido por sorteio e a AAPP voltou a jogar na 2ª e na 3ª rodadas, tendo batido ao London por 4 x 1, em 20/02, e perdido para o White Team por 1 x 0, no dia 27/02.

O Guarani só voltou a campo em 12/03, no 4º jogo da competição, enfrentando o Campinas Black Team, que estreava. E o Bugre venceu, de “virada”, por 2 x 1. A escalação: Gomes, Dario e Paulino; Romeu, Juca e Grecco; Fernandes, Egydio, Carlos, Augusto e Larama. Gols: Oduvaldo (B), Augusto e Larama.

Mais uma vez o jornal Commercio de Campinas destacou ter havido “uma extraordinaria concurrencia de excmas. familias e cavalheiros…”

Prosseguiram os jogos: White Team 4 x 0 London; Black 3 x 0 White; Black 1 x 0 AAPP e Black 2 x 1 London.

Em 30/04, o Guarani enfrentou pela primeira vez o White Team, no 9º jogo da competição. O Commercio de Campinas anunciaria um empate inesperado em 1 x 1, começando sua matéria da seguinte forma: “Hontem, uma enchente colossal…”. Como já se tornava rotina, o Bugre arrastava aos seus jogos uma grande multidão, cada vez mais entusiasmada.

As escalações não são conhecidas e esse ponto perdido acabaria sendo o único em todo o campeonato. Grecco marcou o gol do alviverde.

O último jogo do primeiro turno foi em 07/05, entre Guarany e London. Na escalação do Bugre já não está Ignacio do Amaral (o “Larama”), que acabaria eliminado do clube em 25 de maio, por indisciplina, entrando em seu lugar Miguel Buonicore (o “Tijolo”). O time anunciado: Gomes, Dario e Paulino; Carlos, Juca e Romeu; Fernandes, Egydio, Augusto, Grecco e Miguel “Tijolo”. O Bugre garantiu a vitória e a liderança com 2 x 0, ambos marcados por Grecco.

Guarany e AAPP voltaram a jogar na abertura do returno, no dia 21/05. A alvinegra já havia perdido para Guarany, White e Black e estava em crise. Havia pedido seu desligamento do torneio, mas como seu 2º quadro liderava na sua categoria, acabou voltando atrás. Sua esperança agora era estragar a boa campanha do principal rival. O Bugre jogaria com Gomes, Dario e Paulino; Romeu, Juca e Carlos; Fernandes, Miguel, Augusto, Grecco e Egydio. O árbitro: Octavio de Mello (Presidente do White), escolhido pela AAPP.

O Commercio de Campinas em 22/05 narrou o encontro (que começou com um gol de Augusto) até a marcação de um pênalti não aceito pela AAPP, que acabou originando o segundo gol bugrino (embora tenha sido cobrado com o arqueiro Amparense se recusando a ficar em sua meta).

Quando Juca chutou a bola no gol vazio, ocorreu o que o jornal chamou de: “O INDECOROSO FACTO DE HONTEM NO HYPPODROMO”, com invasão de campo, agressões ao árbitro e pancadaria generalizada, inclusive na arquibancada, acabando com a partida.

Em 04/06, Guarani voltou a enfrentar o Campinas Black Team pelo Campeonato Campineiro. O time anunciado era o mesmo: Gomes, Dario e Paulino; Romeu, Juca e Carlos; Fernandes, Egydio, Augusto, Grecco e Tijolo. Outra vez o Bugre venceu “de virada”, por 2 x 1, gols de Fritz (B), Fernandes e Grecco (este cobrando pênalti).

No dia 11/06, uma partida decisiva. Se o Bugre vencesse o White Team, já estaria praticamente decidido o destino da Taça Club Italiano. Repetiu-se a escalação bugrina e o Guarani venceu por 2 x 0.

Na semana seguinte, inesperadamente o Black perdeu para a AAPP e o título já ficou assegurado matematicamente, por antecipação.

A derradeira partida do alviverde foi em 02/07 e mais uma vez o Guarani, com a mesma escalação, superou o London (2 x 0), sagrando-se Campeão Campineiro invicto. Entre os segundos quadros, o alviverde ficou com a 2ª colocação.

A classificação final do terceiro campeonato campineiro da história:

1º) Guarany – 15 pontos ganhos
2º) Black – 10 pontos
3º) White – 9 pontos
4º) AAPP – 6 pontos
5º) London – 0 ponto

Para a entrega da Taça Club Italiano foi organizada uma grande festa no Hipódromo em 14 de julho. O Bugre enfrentou um scratch de jogadores dos demais clubes, que foi a campo com a camisa da AAPP, e não deu outra: Guarani 2 x 0. A taça foi entregue no intervalo desse jogo.

Na Reunião de Diretoria de 19/06 decidiu-se adquirir onze medalhas douradas para os atletas campeões campineiros, entregues numa cerimônia interna em 25/08. Graças às famílias de José Fernandes e de Augusto dos Santos, as medalhas foram preservadas e puderam ser reproduzidas.

 

Foi confeccionado por Antonio Forster um artesanal quadro fotográfico da vitoriosa equipe de 1916. As molduras foram confeccionadas por Felipe Cazunato e doadas por Antonio Trani em agosto daquele ano. As fotos dos atletas e da diretoria foram doadas pelos dirigentes Pompeo de Vito, Armando Sarnes e Miguel de Vivo

Os primeiros campeões com a camisa do Guarani foram: Manoel N. Gomes, Dario S. Pinto, Paulino Soares, Romeo A. de Vito, Carlos Ribeiro, José Laine (“Juca”), Augusto dos Santos, Miguel Grecco, Miguel Buonicore (“Tijolo”), José Fernandes e Egydio Matheus (“Badú”), e cada um deles recebeu uma reprodução fotográfica daquele belo painel, que também foi distribuída pela diretoria do Clube a órgãos da imprensa da época, sendo publicada em jornais e revistas importantes, como A Cigarra nº 56, de 07/12/1916, e até numa revista de Portugal.

Graças à família de Miguel “Tijolo” Buonicore, que guardou a foto, foi possível reproduzir e resgatar, com razoável qualidade, o rosto dos atletas e da Diretoria de 1916.

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